Música, espelho do povo

Ouvir os clássicos é ter uma fonte sempre renovada do que há de melhor. Eles não nos cansam pois têm algo de novo para nos contar, ensinar, para nos fazer sentir aquela emoção que nunca é a mesma, claro, mas está sempre ali. Acompanhar as melodias, as harmonias, ritmos… isso faz com que nos tornemos mais lúcidos, aprimora nosso pensamento, revigora nosso ânimo. Tenho pensado sobre o quanto a música poderia fazer para o bem de um povo, de uma cultura. Temos hoje em dia uma cultura da música fácil e descartável. Diz-se que quanto mais simples (eu diria simplória) for essa música, melhor. Não há a necessidade de se entender pois não há o que precise ser entendido. Fala-se de amor, sexo, remelexo e outras coisas que giram em torno desses temas. Existem, claro, as exceções de sempre, mas essas irão embora com o tempo. Penso que a simploriedade da nossa música é um reflexo da pobreza intelectual do povo e vice-versa. Como não há conteúdo musical ou literário, não é preciso que se pense. Logo, essa música emburrece, empobrece nosso espírito. A quantidade de pessoas que vemos nas ruas com fones de ouvido é imensa. Não raro conseguimos escutar claramente o que elas ouvem. É um transe. Fica-se repetindo “eu te amo…” ad eternum. “Só as cachorras…” O que é isso? Perdeu-se a pureza, o encanto, a magia. Não se pensa mais na elaboração de um verso, de uma melodia, de uma harmonia! Acho muito engraçado quando os nossos intérpretes se sentam com um violão e tocam alguns poucos e insignificantes acordes; suas caras são ótimas; caras de conteúdo, caras de artistas, caras de quem está oferecendo um manjar dos deuses àqueles que, aos seus pés, ouvem embevecidos. Onde estão os artistas de verdade?  O que aconteceria se esses pseudo-artistas resolvessem compor algo que prestasse? Algo, um pouquinho que fosse, mais elaborado. Sem dúvida teríamos um povo que pensaria um pouco melhor, que teria mais clareza e recursos mentais; seria um povo com mais orgulho e certeza de si.